sobre a mesa há uma caixa mística
e nela se encerram segredos
aspirações e ataques traumáticos
seus dedos não
ousariam
abri-la não
com as digitais falhas
oscilantes entre sou isso
e não sou
[nem o céu nem a terra
são indulgentes
com a confusão]
aproxime-se
em silêncio
depois do corpo
lavado
peça permissão
quem sabe sussurro
grito ou canto
quem sabe o encontro
e a queda
da máscara
as coisas pequenas
me importam
porque as grandiosas
estão intactas
as monstruosas imensas
profundas e densas as que
explodem e varrem inteiras
cidades
são coisas que expõem
a pequenez do seu ego
e na minha consciência
racional e gemida
a duras provas e quase
não sobrevivendo
não sinto a urgência
do contato
os cactos por outro lado
os copos as cadeiras e os
cadernos e os pedaços de
carvão as ossadas de frango
assado fazem mais
o meu perfil
advogam por meu caso
mas todas as enormes
palavras as cachoeiras
e tornados todas as mães
e o sangue dos cordeiros
e todas as composições
em nota mais alta e os
pianos e caudas
não são dadas ao toque
e eu não quero tocá-las
(poema do livro “Um buraco com meu nome)