aceitei que sou louca
que meus joelhos rangem e meus cotovelos furam
meus olhos latejam
as pálpebras tremem
aceitei minha loucura como uma gravidez de cadela
de poucos meses
e muitas tetas
o problema de ser louca
e ter a cabeça cheia de ideologias
convicções e fantasias [políticas]
é que não te oferecem um quarto sem trancas
um refeitório branco com bandejas vazias
a prole da minha insanidade desceu pelas minhas pernas
estendendo os braços
e já tinha alguns anos – que não pude contar
eu somente a fitei com os olhos borrados
os cílios duros de rímel
as unhas que cortei no dente
“mãe, me tome em seus braços”
minha loucura clamava
em prantos que não se repartiam dos meus
e nós choramos, loucas de primeira viagem
a minha loucura
e eu.