a primeira vez teve gosto de sukita
as bolhas saindo pelo nariz
afogando a foça de reação
transformando um corpo infantil
em corpo estático
em pedra-pomes
os buracos juntando sujeira

ele despejou em mim
todo o lixo do umbigo aos joelhos
despejou em mim
o riso culpado de quem sabia
porque ele sabia

a segunda vez teve gosto de urina
cheiro de mijo debaixo do sol
molhando a terra e evaporando
marcando o território pátrio
o líquido da madrugada
os copos plásticos de vinho tinto
vinho barato de dois reais
dois litros de mijo na boca

ele despejou em mim
porque ele sabia

mas a terceira vez não teve gosto
minha língua despapilada
observava incrédula
era o suor dos apóstolos o púlpito
e o espetáculo das ordens
e regras

ele despejou em mim
enfeitado de gravata
concreto em sua qualidade
de santo

mas ele soube
que eu também sabia

  • poema “trilogia” do meu livro “Um buraco com meu nome