NÃO é de Maria Firmina dos Reis essa imagem que temos utilizado:
NÃO é Maria Firmina, a primeira romancista abolicionista negra do Brasil, mas uma escritora gaúcha (e branca) chamada Maria Benedita Borman, que utilizava “Délia” como pseudônimo.
Quando conheci a história de Maria Firmina e fiquei apaixonada por sua coragem e talento, caí nas fotos que são abertamente utilizadas por todos e pensei se tratar de mais um caso “Machado de Assis”, em que a aparência é embraquecida sempre que possível, sobretudo quando imagens em preto e branco ganham cores. Lamentei o fato, me senti revoltada, mas era essa a imagem disponível, certo? Todos os grupos, até mesmo de ativismo feminista no meio literário, utilizavam essa mesma imagem e continuam com ela até hoje.
Mas aí chegou até meu conhecimento a seguinte publicação: http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2014/03/09/nao-e-de-maria-firmina-o-retrato/
http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2014/03/09/nao-e-de-maria-firmina-o-retrato/
Nela, a verdade sobre o rosto de Maria Firmina dos Reis é revelada. Como pista de sua real aparência, nos é deixada apenas uma foto de um busto que foi feito em sua homenagem e teve como base os depoimentos de pessoas que foram próximas à escritora. Abaixo:
Com base nesse busto, pedi que a ilustradora Gabriela Pires, responsável pelas ilustrações e por todo o projeto do meu novo livro “Heroínas Negras Brasileiras”, fizesse uma Maria Firmina dos Reis que, agora sim, estaria mais próxima de suas origens negras. A imagem que está ilustrando esse post: https://www.facebook.com/arraesjarid/posts/814138868761950?notif_t=like¬if_id=1494588941983752
Mas fico refletindo sobre a situação lamentável que tem sido perpetuada. Por mais que Maria Firmina dos Reis esteja recebendo seu reconhecimento (tardio e ainda pequeno) pela história que marcou, o rosto propagado é um rosto branco, de uma escritora filha de uma família riquíssima, da elite, e que ainda assim também tem sua memória apagada quando seu rosto é transferido para outra.
Um caso que, na minha opinião, revela muito sobre o racismo e o machismo da nossa sociedade, do nosso mercado editorial, da nossa literatura enquanto cultura ou “modo de ser e fazer”.
Com esse post, espero que a partir de agora, sempre que possível, façamos a correção desse erro. Que indiquemos essa publicação que descortina o caso e ajudemos mais pessoas a saberem quem foi Maria Firmina dos Reis e quem foi Maria Benedita Borman, a “Délia”.
(Se você tem outras informações sobre isso, se sabe mais a respeito, por favor entre em contato: contato@jaridarraes.com)