escrevo cada letra
como pílulas tarja-preta
que não engoli

uma a uma
como feijões catados na bacia
reproduzindo os dedos ágeis
que minha avó possuía

pego as palavras formadas
prozac
⠀⠀rivotril
⠀⠀⠀⠀azepam
⠀⠀⠀⠀⠀⠀oxetina

e ouço o pingado agudo
que minha avó também
ouvia

pec pec
os feijões bons dos ruins
numa água fria
de torneira

quanto tempo deve-se
cozinhar
um suicídio
antes de comê-lo?

– Poema do meu livro “Um buraco com meu nome”
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A poeta Anna Clara de Vitto, coordenadora do Clube da Escrita Para Mulheres, lê o poema “preparo”, do meu livro “Um buraco com meu nome”. Um vídeo que gravamos durante a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty 2018. Um poema de tema difícil, mas uma discussão/reflexão sempre e cada vez mais necessária.

“Um buraco com meu nome” é um livro que fala sobre as coisas feias que existem na sociedade e em nós. As coisas feias que causamos nos outros e em nós mesmos. E as consequências de questões como racismo, machismo e outras violências na sociedade e na saúde mental.